* Elizabeth *
Acordei umas 7 vezes por causa do Ricardo; ou ele queria me mostrar a paisagem pela — pra ele, era tudo mágico — ou estava com fome,sede e frio; ou queria brincar.
Minha mãe satisfazia as necessidades dele e depois deixava por minha conta. Brinquei muito com ele, nós nos damos muito bem, graças a Deus. E eu sempre gostei de crianças; elas me fazem sentir livre, me fazem me sentir como uma delas, e isso é bom.
Alguém me deu um empurrão no ombro e logo depois tiraram meus fones enquanto tocavam “You are not Alnone” de Michael Jackson, um ícone.
— Ebaaaa! Bora, bora menina! Acorda teu irmão! Finalmente... CHEGAMOOOS! — meu pai parecia uma criança, mais entusiasmado do que qualquer um que já vi. Olhei pra ele e ri.
Dei um peteleco na orelha do Ricardo e ele acordou de supetão, quase batendo a cabeça na janela. Comecei a rir desesperadamente perguntando se ele estava ok.
— Riiiick! Pelo amor de Deus! — disse tentando não rir — vam’bora!
Peguei minha mochilinha e fui levando o Ricardo pela mão.
— Aaah... Lizzie... — só meu pequeno irmãozinho me chamava assim — eu to com fome e sonooo!
— Ai amorzinho da mãe! — fiz uma voz de mamãe puxa saco e apertei as bochechas dele — Nós já vamos chegar na casa, espera um pouquinho seu pestinha! — falei isso colocando a mão na cabeça dele e desarrumando seu cabelo. Ele olhou pra mim com um biquinho fofo, tentando demonstrar “raiva”, o que fez nós dois rirmos.
Antes de percebermos, já estávamos no meio do caminho, num táxi. Ricardo estava dormindo no meu colo, Daniel estava com meu mp5 bisbilhotando minhas músicas e Laura olhava pela janela, sem emoção.
Enfim, havíamos chegado na casa.
— Muito obrigado! Bom trabalho pra você! — disse meu pai pagando o taxista.
A casa era enorme, linda, viva. Tinha um jardim lindo com flores perto da porta e entrada e o cheiro da grama verde ao redor me invadiu. É, parecia melhor do que eu pensava sim.
Entramos levando as malas todas pra dentro. A sala era muito bem arrumada, móveis brilhantes, TV, som, um sofá cama enorme e duas poltronas. Minha mãe logo levou Ricardo pra cama, coitado, já estava no sétimo sono.
Eu ri pra mim mesma quando vi minha mãe o carregando.
— Aaah, então... quantos quartos tem?
— Seis. — meu pai respondeu.
—...? Eu posso ficar com um só pra mim? As férias inteiras? — alguns podem achar estranho, mas sim, minha irmã de 21 anos ainda divide o quarto comigo. Desde que eu nasci não sei como é ter um quarto só meu...
— Claro.
— Aaaaaamém! Ahahaha Bom, tomara que eu não fique com medo durante a noite, tenho que me acostumar. Haha
Meu pai deu uma risada e eu subi correndo as escadas. Eu escolhi um quarto um pouco perto da escada; ele tinha as paredes cor de lilás, um carpete escuro, um closet normal; era um quarto divertido. A minha cara. A cama era demais, confortável e grande.
Mordi meu lábio inferior sorrindo e olhei pra ela. Fui correndo deixando minhas sandálias pra trás e comecei a pular nela que nem criança. Comecei a gargalhar sozinha nesse momento.
Depois fui arrumar minhas coisas; pouca coisa; limpei tudo e fui tomar banho.
Coloquei meus típicos pijamas: uma calça moletom e uma camiseta básica. Fui jantar e pelo jeito todos tinham se empolgado com seus quartos.
Depois que terminei dei boa noite aos meus pais e subi. Liguei a TV no meu quarto nos Simpsons e comecei a pintar minhas unhas. Quando fui deixá-las secar, saí andando pelo quarto tentando achar algo que eu ainda não tivesse visto. Então fui pra janela, o céu estava muito escuro, mas também muito estrelado; estava lindo. Assim como o garoto sentado no gramado da casa da frente, ele estava sem camisa falando ao telefone e rindo. Logo nossos olhares se encontraram e ambos ficamos parados, sem mexer um músculo. Foi então que ele piscou e lembrou que estava ao telefone, olhou pra mim e deu uma risadinha. Eu também ri abaixando a cabeça e fechando as cortinas.
Fui dormir pensando nele.
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